MENSAGEM PARA QUARESMA E CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2025 

«Deus viu que tudo era bom (cf. Gn 1.31) ».


Estamos vivendo, dentro do Ano Santo Jubilar da Encarnação, o oitavo centenário do Cântico das Criaturas, composto por nosso Pai Seráfico, São Francisco de Assis. Nesse sentido, a Campanha da Fraternidade vem ressaltar essa temática tão importante, promovendo "em espírito quaresmal e em tempos de urgente crise socioambiental, um processo de conversão integral, ouvindo o grito dos pobres e da Terra”.

São Francisco foi sem sombra de dúvidas um revolucionário na história da Igreja. Uma revolução de amor, de chamada àquilo que é fundamental no Evangelho de Jesus: o amor-caritas. Quem ama de verdade a Deus, está conectado com o todo da criação; é um verdadeiro humanista, preocupado com o bem dos irmãos, pois sabe ver a presença de Deus em tudo, e em todos.

No seu Itinerário para Deus, o Humanismo Franciscano celebra com alegria a festa de todos os encontros com todas as criaturas, que são outros tantos degraus para subir à montanha do Senhor. E dado que estes encontros do Humanismo Franciscano são radicalmente sinceros e plenos de verdade, têm forçosamente de desabrochar em ACOLHIMENTO. Por isso Francisco acolhe, com júbilo e gratidão, a revelação do amor de Deus e da amizade das criaturas. «Acolhe os socialmente enfermos, os ladrões, os salteadores, os leprosos, os pobres, os poderosos, os irrelevantes. Acolhe a criação inteira, não apenas com sentimentos de poeta, mas com entranhada amizade fraterna». Acolhe tudo e todos, mas acolhe sobretudo os que não são acolhidos, assume as misérias humanas para as transformar. A sensibilidade e o acolhimento franciscanos, podem transformar, como diz António Merino "o universo do temor num universo de aproximação exultante". A consequência de todo este Humanismo Franciscano, no que se refere à Ecologia, é evidente: uma "irmanação universal".

O nosso relacionamento com a Natureza tem como princípio inspirador a fé num único Deus, que é a fonte de toda a criação e de toda a vida, donde procede o homem e a natureza. Não aceitamos o Dualismo do espírito e da matéria. O nosso relacionamento com a Natureza inspira-se também na relação do Espírito de Deus que se manifesta na Criação e nos faz respeitar valores superiores aos que o Positivismo descobre, na sua investigação puramente experimental. 

A natureza não está à frente de nós: vive conosco! Não é um instrumento ou objeto manejável, segundo o nosso capricho, mas uma dimensão essencial do nosso espaço vital. O homem torna-se vil e grosseiro e perde a sua nobreza de homem quando usa e abusa dos seres da natureza. Parafraseando S. Paulo, que afirmava que o marido que não ama a sua esposa peca contra o seu próprio corpo, podemos dizer: o homem que não ama mas ofende a natureza peca contra o seu próprio corpo. E porque o corpo está indissoluvelmente unido à alma, peca também contra a própria alma. Ou seja: ofender a natureza - poluindo-a, esbanjando-a, destruindo-a, - é um pecado em sentido ético e teológico. O homem não pode ser o rei despótico da criação mas o irmão universal, o grande irmão, o irmão mais velho de todos os homens, animais, plantas e coisas. 

A vida do homem sobre a terra tem sido difícil, ao longo da história e tem exigido muita luta para garantir a sobrevivência e o progresso da humanidade. Esta luta é legítima e podemos e devemos socorrer-nos da técnica para vencer os obstáculos que a própria natureza nos oferece. O mal está no exagero da ambição e da cobiça que levam os homens a criar, através da técnica, um mundo artificial, com grave prejuízo do mundo natural.

Assim sendo, falar de ecologia integral, é sintetizar numa só coisa, todas as necessidades do homem na criação. Se amo a Deus em espírito e em verdade, me preocupo com meu próximo em suas necessidades, espirituais e temporais, respeitando e promovendo o meio que Deus nos deu para o nosso sustento e habitat. Tudo está interligado!

Que possamos vivenciar este período, inspirados no carisma de nosso Santo Fundador, uma verdadeira conversão ecológica, que englobe todo corpo, alma e espírito, e gere ações novas de espiritualidade e sustentabilidade. 


Convento Nossa Senhora dos Anjos, 5 de março do Ano Santo de 2025.

Fr. Marcus Di Vegesela, OFMCap
Ministro Geral


Com excertos retirados de: Fr. Miguel Negreiros. OFMCap in Cadernos de Espiritualidade Franciscana, nº 2, pp. 38-44.